Os amigos Brenda, Leandro e Luciano chegam num bar e encontram a escotilha de Lost, entram nela e dão de cara com o apartamento de Monica Geller, mas na sala estão Ted Lasso, Barney Stinson e Walter White assistindo TV. Esse é o Miopia, um podcast semanal sobre filmes e séries de TV.
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Diogo Vaz Pinto e Fernando Ramalho à conversa, leve ou mais pesarosamente, fundidos na bruma da época, dançando com fantasmas e aparições no nevoeiro sem fim que nos cerca, tentando caçar essas ideias brilhantes que cintilam no escuro, ou descobrir a origem do odor a cadáver adiado, aquela tensão que subtilmente conduz ao silêncio, a censura que persiste neste ambiente que, afinal, continua a sua experiência para instilar em nós o medo puro. Vamos desenterrar, perfumar e puxar para o baile o ...
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Feira Internacional da Miséria Local. Uma conversa com Joana Matos Frias
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Essa coisada da literatura, onde é que isso já vai? Podia ter sido um extravagante ensaio geral recombinando os escombros da realidade, mas acabou como mais um antro para o recital dessas cansadas passagens obrigatórias, e o que nos escondem são esses exaltantes devaneios provocatórios, tudo se faz por soterrar os melhores exemplos de um heroísmo i…
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Crise climática e hipocrisia pornográfica. Uma conversa com Leonor Canadas
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Emergência, crise, desastre, colapso, extinção, palavras, palavras, palavras, o que podem elas fazer ainda se a violência maior reside precisamente nesse encadeamento azucrinante, nesse modo de alimentar um frenesi de cenários catastróficos sobressaltando-nos, instrumentalizando a indignação, até nos entregarem à indiferença e ao cinismo, de tal mo…
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Comércio de literatura para cansados. Uma conversa com Gonçalo M. Tavares
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Consideremos aquilo que se espera hoje do escritor face à vida literária que nos resta, como este está condenado a exibir-se como uma espécie de fantasma em nome de um prestígio ou até de uma função que caiu em desuso, como um defunto que aceita fazer esses papéis de figuração nas cerimónias fúnebres e encomendas das almas que compõem o quadro cult…
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Desposar o cadáver. Uma conversa com Ricardo Cabral Fernandes
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A juventude devia importar-nos? E os jornais? Ou a falta dessas noções que iam abrindo caminho a uma renovação, a uma suspensão das velhas crenças e hábitos, dessa realidade que é usada como um argumento para vivermos sufocados? Talvez as respostas sejam o problema. Talvez as perguntas pudessem ser o suficiente. De tal modo impertinentes, umas atrá…
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Quem se destrói não se cansa. Uma conversa com Nuno dos Santos Sousa
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Na década de 1960, José Gomes Ferreira falava de "cerca de trezentas pessoas heróicas que andam de um lado para o outro, em Lisboa, a fingir cultura". Não estamos seguros sobre os números actuais, uma vez que se tornou bastante difícil realizar censos num tempo de tal modo desvitalizado, sem recreios, ringues ou arenas, e é, de resto, esse um dos a…
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A miopia em que nos escondemos. Uma conversa com Maria Antónia Oliveira
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Por cá, nas representações que fazemos de nós próprios, cedemos demasiado depressa ao registo da paródia mais alarve. É um modo de nos defendermos do nosso encanto, das primeiras e mais honestas ambições. Recosemo-nos no interior dessa carapaça desgostante, e assim nos vamos aliviando das exigências que chegámos a alimentar. Hoje, qualquer reflexão…
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À Espera de um like de Godot. Uma conversa com Vania Baldi
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Uma ilustração adequada da condição mais comum dos nativos digitais seria uma perspectiva de campos a perder de vista dominados por uma espécie de plantação onde os corpos estivessem alojados em casulos, como larvas incapazes de completar a sua metamorfose, diluindo-se aos poucos numa espécie de banho amniótico, exercitando o seu suposto potencial …
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Construir barragens para desacelerar o tempo. Outra conversa com Diogo Duarte
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Hoje tudo nos aparece escaqueirado pela palavra mais fraca, pelas noções mais frágeis, mas que se infiltram e servem como uma razão e um denominador comum para essa massa opaca dos monstros práticos. E se todos anseiam desesperadamente por vencer o impasse azucrinante em que vivemos, talvez hoje fosse politicamente mais relevante se congeminássemos…
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Uma Outra Educação. Conversa com Jorge Ramos do Ó
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É preciso saber andar pelo passado, alimentarmo-nos dele, e não como qualquer coisa morta, mas como matéria que é possível constelar com o presente, reinterpretar, sem repetir os mesmos gestos, caindo na prisão de um encanto mítico. Em tempos, a escrita e a leitura, sendo actividades vagarosas, reconheciam que a tarefa que se nos impunha era avança…
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Abrir caminho a golpes de fígado para escapar do cemitério das letras. Conversa com Rui Lopo
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Para preservar o desejo hoje sentimos uma necessidade de fuga, de escapar aos ambientes onde o vazio é disfarçado com recurso a formas de pirotécnia, a essas redundâncias esterilizantes que tomaram conta dos modos de representação culturais, tendo-se permitido que os alicerces da literatura portuguesa apodrecessem, acelerando o esquecimento sobre o…
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Futebol, o tubo de ensaio para os novos fascismos. Uma conversa com Luís Filipe Cristóvão
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Hoje é impossível escapar ao futebol, a essa redução essencial da tragédia a um espectáculo que segrega uma mitologia degradante, cercada de um fervor e de formas de culto alienantes, providenciando uma linguagem que chega a todos, um discurso que invade até o campo da religião, chamando a si termos como catedral, milagre, fé, comunhão, consagração…
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Subsídios para uma ecologia da literatura lusa. Conversa com Paulo Bugalho
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Goliarda Sapienza costumava dizer que os mortos deixam de ter razão se depois da sua morte ninguém os defender. Hoje essa advocacia fulgurante e desinteressada tem vindo a degradar-se, uma vez que os vivos estão demasiado empenhados em promoverem-se a si mesmos, a ponto de fazerem tábua rasa da memória e da tradição. Aquela autora italiana estava, …
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O Anticristo e um Job lusitano entram num bar onde Rui Nunes tira as cervejas
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Este episódio surge como o nosso especial de Carnaval, depois de um convite da Livraria da Lapa, e com a proposta de lançarmos dois livros de naturezas bastante diversas, ainda que não inconciliáveis, de uma assentada. Se aquela tarde não for relembrada por mais nada, talvez o seja por uns poucos como um encontro num momento de desordenada suspensã…
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História do Cerco de Lisboa (e arredores). Uma conversa com António Brito Guterres
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De algum modo, hoje todos nos sentimos em perda, num luto sem um objecto certo, uma angústia difusa, convencidos de que somos incapazes de extrair um nexo desses dez mil farrapos de desinformação, condenados a alguma forma de neurose. Supomos que a realidade se tornou demasiado intensa, um enxame fervilhante cuja dispersão celular derrota a nossa c…
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Exilados do próprio corpo, desterrados do desejo. Uma conversa com Joana Bértholo
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O regresso ao corpo seria a Odisseia dos nossos dias, pelo modo como vivemos dispersos, alheados, infinitamente desgastados, carregando um cansaço crónico, "ou melhor, de cronos", como escreve Joana Bértholo logo no arranque do seu livro mais recente, "O meu treinador". Estamos todos cansados de lidar com o tempo, com as incessantes compulsões a qu…
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Uma última rave antes de Auschwitz 2.0. Outra conversa com Luhuna Carvalho
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Quando chegar a altura de erguermos o nosso próprio muro das lamentações, em tantos dos bilhetes deverá ler-se a muita pena de não termos feito mais festas, levado mais gente para a cama, talvez porque essa sim parece ter sido uma lição decisiva, a de que não poderíamos levar uma existência artística ficando limitados ao dia, mas deveríamos ter pro…
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Sessões espíritas numa cidade assombrada. Conversa com José Smith Vargas e Fernando Ramalho
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Querem convencer-nos de que estamos encurralados na estação morta e que daqui não há saída, que não nos resta alternativa senão seguir adiante e acatar os maus modos e destratos da época que nos calhou viver. Enquanto isso, enquanto prosseguem na sonegação dos melhores espíritos desta geração, garantem-nos que o problema é que nos falta o génio e a…
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O regresso dos vilões à política. Uma conversa com Miguel Faria Ferreira
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É das poucas liberdades exaltantes que ainda nos restam, a de nos demorarmos a divagar rente às feridas e às transformações, e de nos desfazermos de inúteis particularidades para mergulharmos no que é comum. Também os homens formaram bandos, numa firmeza de assalto capaz de fazer da realidade outra coisa, e houve aqueles que só entendiam a sua forç…
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Revelações a partir do mictório das letras lusas. Uma conversa com João Oliveira Duarte
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Se o nosso tempo não nos diz puto, todos os dias parecem ser domingo neste povoado à beira-mar e que eles se esqueceram de bombardear. Era mais ou menos isto que ouvíamos de uma dessas canções da nossa adolescência, e de algum modo batia certo, pois a sensação de desenraizamento deixa margem a uma estranha ânsia de aniquilação. É isso o que secreta…
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Reaver a escala entre pássaros e ditadores. Conversa com Andreia Farinha
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Dantes os pássaros alimentavam-se da carne dos capitães que morriam do outro lado do mundo. Dados como perdidos, a sua lenda desfazia-se em migalhas sustendo esses seres que não têm começo nem fim. A vida aproveita-se deles como de mais nenhuma outra imagem. Esses bandos, tomando o ar do seu canto, deixando ao vento um ar de espanto. E ensinam-nos …
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Ensaiar formas de dizer "Não". Conversa com Maria Lis e Fernando Ramalho
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Nas vésperas deste episódio, o Frederico tomou-se de um febrão daqueles que até os ossos amolecem, e que excitam o tipo de delírios que depois não se podem reproduzir, assim, amarrado à cama como um possuído, desta vez deixou o lugar ao Fernando Ramalho, espécie de Robinson destas saídas à cata do inesperado. Numa altura em que só precisamos de uma…
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O despudor das paisagens. Uma entrevista a Álvaro Domingues
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A promessa de um mundo que começa com uma catástrofe não é necessariamente contraditória, e, no entanto, o futuro ainda só parece fazer-se sentir à distância, e alcança-nos por meio de vislumbres, como um pressentimento. Entretanto, enquanto tudo ao nosso redor lhe resiste, é possível folhear um caderno e ler sobre as variações possíveis do que nos…
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São merdas meu senhor são merdas. Uma conversa com Nunes da Rocha.
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No Telhal ninguém lê Camões, e é pena. Talvez fizessem mais sentido dele. Cá fora os usos que se lhe dão, diga-se de passagem, também não são melhores. Até nos vícios já fomos mais sinceros. Já bebemos com outra honestidade, exactamente por nos sabermos sem escapatória, desertávamos intimamente pondo-nos a inventar com uma ferocidade que por estes …
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Emissários do êxodo ou da extinção. Uma conversa com Rui Lage
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O mundo (este ou outro qualquer) é o conjunto de imagens-tendências projectadas a uma mesma velocidade, essa a que o olho humano se pode adaptar, captando-a, do mesmo modo que um receptor de rádio conectado a uma determinada frequência capta modulações que constroem sentido nessa banda sonora. Mas se hoje tudo começa a parecer-nos excessivo, se há …
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Os aristocratas do fim do mundo. Uma conversa com Luís Gomes
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Traficantes de sinais que persistem entre a escória de cada época, cabe aos livreiros um papel fundamental nas operações de resgate e nesse cultivo de uma esperança que, ao contrário do que se pensa, não nasce de uma visão tranquilizadora e optimista, mas de uma laceração da existência vivida e confrontada depois de se lhe arrancar todos os véus. É…
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Vampiros, zombies, vírus e outras variações sobre o desastre desta nossa grande época
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Este é o primeiro episódio sem a Joana, que não quis mais andar por este jardim cativo de uma feira bruta com menos diversões que tormentos. Bateu com a porta, por isto e por aquilo. Fica-nos esta necessidade de remorso que não altera nada, e se o mais indicado talvez fosse cumprir um certo luto, para quê vir agora observar protocolos quando até aq…
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Demitam-se também os portugueses. Conversa com Jacinto Godinho
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Agora que todos os raciocínios são trincheiras, que um homem que se dê ao trabalho de pensar por si ver-se-á empurrado para as catacumbas de si mesmo, sendo condenado ao isolamento, agora que a quantidade impede qualquer revolta contra ela, quem se esforça por dizer palavras verdadeiras não consegue evitar soar ridículo. Ainda andamos de volta dos …
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Três tristes tigres de roda do prato de espinhas do jornalismo. Conversa com Nuno Ramos de Almeida
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Entre os de papo cheio e os manga-de-alpaca que tornam os corredores ainda mais longos e bafientos neste regime miserando, vamos buscando quartos com os estores em baixo, onde "conferenciamos em surdina com as nossas almas, isto é, as peças dos equipamentos espatifados que os nossos inimigos nos deixaram" (Sean Bonney). Quando se vai em campanha, o…
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Um país em liberdade condicional. Entrevista a Carlos Matos Gomes
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Nove séculos depois, com tanto desaire, tantos tombos e ilusões a naufragar neste sangue, está difícil vir tirar do prego as três sílabas que em tempos cunhámos em cobre e nos foram devolvidas em plástico, esta vaga pertença sobre a qual vemos acumularem-se juros impossíveis de saldar na loja de penhores inglesa onde a deixámos, temporariamente ape…
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Do anarquismo ao pensamento mágico. Uma conversa com Diogo Duarte
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Mesmo entre os que ainda pegam num jornal para o ler, em vez de logo o enrolarem para enxotar alguma mosca, há gente que só lê as páginas de desporto, outros só lêem as páginas de sucessos, outros dedicam-se aos horóscopos, alguns preferem as palavras cruzadas, e há também aqueles que vão direitinhos aos necrológios. Apesar de tudo, há ainda muita …
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Zero em Comportamento. Uma conversa com Jorge Roque
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Em breve a dor será tida como uma substância ilícita, devendo ser erradicada em regime preventivo com recurso a uma panóplia de fármacos, desde logo estabilizadores de humor. E quem a ela responder em público será alvo de punição. Não há direito a incomodar os que estão a gozar os benefícios de uma existência radiante, e não merecem ser confrontado…
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Rasgar um caminho à bordoada. Uma conversa com Eugénio Lisboa
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Eça de Queiroz dizia que na sonolência enfastiada em que vivemos, num país onde a vitalidade humana apenas se conserva num egoísmo feroz e numa devoção automática, não nos é dado aspirar a uma existência propriamente, mas tão-só a alguma forma de expiação. Agora os abutres de serviço dizem-se muito empenhados em honrá-lo, mas vão-se esquecendo como…
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Valsas entre sentenças de cinza e razões de vento. Uma conversa com José Miguel Gervásio
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Com o transplante da existência para os domínios virtuais, o mais difícil é fazê-los acreditar na realidade. Vivem asfixiados em poços cegos, consumidores de juízos alheios, imersos num zumbido que se torna o predador engendrado pela espécie contra si mesma. São essas ficções infindáveis nas quais em vão procuramos qualquer coisa real para dar ao d…
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Andar às lostras num ringue de mel. Outra conversa com o Changuito
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Antes de irmos de férias (ou melhor, antes de vos darmos um período de tréguas), no nosso vigésimo episódio regressamos àquela que é em grande medida a casa da partida, casa de ecos pingados numa música de câmara ardente, casa cheia das marcas de velhos inquilinos, dos que não morrem sem dar luta, e que deixam para trás algum prego só deles, num ca…
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Laboratório de extinção. Uma conversa com Manuel Bivar
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Nos jornais diários e nos espaços de comentário onde todos os dias a realidade desaparece, enquanto o prestidigitador anda às voltas com ar atarefado a cozinhar uma sopa da pedra na cartola, lá vem a telenovela da anestesia com as catástrofes já habituais: juros da dívida em crescimento, novo corte de salários e pensões, aumento do desemprego, e o …
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Nunca te foram ao cu. Uma conversa com Miguel Filipe Mochila
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A vida não é aqui e só raramente nos visita, sendo este mais outro cenário que serve à encenação desses comoventes desenlaces de um mundo que vive de falsas esperanças, ficções hipócritas, dessas faustosas imposturas que, "com uma perversidade certeira, permitem ao sistema de poder do nosso tempo tirar a potência e autoridade a todas as formas que …
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Bruxas, putas, cabras heréticas. Uma conversa com Luís Filipe Parrado
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Dado o grau de inconsciência, a vida desinteressou-se de nós, e há uma nostalgia do túmulo que se sobrepôs aos nossos desejos. Sendo a realidade aquilo que é, sonha-se com vingança e, artisticamente, talvez esteja na altura de as musas nos darem cabo do canastro. Enquanto isso, aí fora tudo engendra bestas apressadas, industriosos monstros, ao pass…
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O Ânus Solar e o Sol Negro na edição portuguesa. Uma conversa com Frederico Neves Parreira
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Andamos a chafurdar em narrativas simplistas, enredos que servem de funil para a moral engarrafada, e há por aí juízos enlatados para todas as ocasiões, por outro lado, a literatura em geral, e o romance em particular, depois deste naufrágio miserável, sobrevive por aí em pequenas ilhas, enquanto no continente vão propondo à circulação toda uma lin…
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Ir colher laranjas ao pomar. Conversa com Alexandre Pomar
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É o que dá andar nisto como quem sai à caça de quimeras: pedimos Quixote, sai-nos um Sancho, vamos aos gambozinos, damos com osgas domésticas, tínhamos visto por aí um crítico desaustinado e afinal damos com outro reitor da Universidade do eu-e-as-coisas-ao-meu-redor. Às vezes é assim. Filho de Júlio Pomar, teve as chaves da chafarica e fez um perc…
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À Espera do Ultimato dos Educadores. Conversa com Maria do Carmo Vieira
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Depois de ser dispensada do programa das aulas de português, estava na altura de trazermos de volta essa figura tão malquista como crucial d’Os Lusíadas, esse grande dissidente face aos desvarios de uma certa nobreza que continuamente nos leva a embarcarmos como ratos na nau catrineta das suas fantasias. Numa época de apoucamento da língua, de cedê…
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Aquele em que fomos ao fundo arrastando connosco meio mundo. Conversa com Luís Miguel Rainha
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Desta vez, e sendo o episódio 13, isto foi para a desgraça completa. Com uma boa zurrapa a afinar os instrumentos, saímos de submergível, e enfiámo-nos no mar arrastando literatos aos gritos pela mãezinha, a mandarem sms's e a baterem com as chaves e os anéis um morse muito aflito, com instruções sobre como preparar a edição póstuma do conteúdo das…
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O legado que fica nas toalhas das mesas de cafés. Uma conversa com Vladimiro Nunes
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"Uma simples frase mais bela, um simples adjectivo mais acertado tem de atravessar imensas camadas de lama e esterco para enfim brilhar. As histórias da literatura só falam do brilho. Mas nunca da esterqueira donde emergiu. E é no esterco que sinto uma grande parte de mim", confessava Vergílio Ferreira no seu diário, e serve-nos isto como balanço q…
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Génese do sindicato terrorista das letras. Uma conversa com Fernando Ramalho...
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Temos tido poucos capitães no nosso espaço literário, poucas oportunidades de nos vermos guiados para alto mar ou sequer alta noite em enormes navios de espelhos, esses onde o tempo se confunde de tal modo que nos oferece o delírio de verdadeiras delícias quiméricas, esses capitães cujo grito ou o silêncio nos inunda o sangue e os nervos de tal mod…
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Suíte e Fúria. Uma conversa com Rui Nunes
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A degradação também se faz de um infindável repertório de ecos, repetições que parecem vincar algo de decisivo, mas que, na verdade, vão corroendo, deslocando o sentido até este se tornar demasiado vago, inexpressivo. E, nisto, damos por nós em busca de uma voz que não proceda de um olhar emprestado, ou roubado. Como escreve Rui Nunes no seu mais r…
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”Um corpo sozinho é uma campa vertical”. Uma conversa com Vasco Gato
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Cheira a sangue a mancha de vinho na toalha, e deve ser sinal de que a inteligência volta enfim a encarnar, a ter gestos largos, expansivos, a ver e tocar as formas diariamente. Depois de três anos de suspensão e de uma certa necrose social, está na altura de falarmos sobre o que (nos) aconteceu. Tentamos recuperar o sentido da proporção e da razão…
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Beber uma coca-cola em casa do Manuel João Vieira
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Estar vivo hoje parece tão fácil. E talvez até fosse, não se desse o caso das coisas estarem cada vez mais estranhas, ou simplesmente estúpidas. Quando a vida parece apontada para o raio que a parta, são os degenerados e os delinquentes que assumem os comandos da nave. Manuel João Vieira brinca há décadas com essa hipótese dos imbecis tomarem conta…
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Querelas, bulhas, porrada de meia-noite... Uma conversa com João Pedro George
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Queres ver que depois desta continuam a jurar a pés juntos que não há polémicas no meio literário português? Se calhar até têm razão, porque para haver estrilho, drama, seja o que for, antes de mais nada, era preciso que esses mesmos que nunca dão por nada dessem por si mesmos, tivessem algo que os fizesse viver que não fosse apenas algum esquema q…
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Para lá da actual guerra civil de egos, o que há? Conversa com Luhuna Carvalho
2:36:12
2:36:12
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Listor
Gilla
Gillad
2:36:12
Perante a vida desencantada, perante toda esta decadência generalizada da vida, que está na raiz da nossa desmoralização actual, todos apenas parecem buscar consolos ou formas de ajustar o cinismo para abrir espaço a ressalvas e excepções, quase sempre circunscritas ao espaço da vida mais íntima. Quanto ao mais, todos parecem ter feito as pazes com…
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”Às vezes também lá vou pôr likes”, uma conversa com o Changuito, na Poesia Incompleta
2:37:07
2:37:07
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Listor
Gilla
Gillad
2:37:07
Neste dia do trabalhador, exigia-se que fôssemos ouvir a voz de um desses proletários que, às coisas da cultura, não deixam que falte um chão, mas também um caçador de brilhos capaz de segurar o lustro e os astros para que o céu não pareça estar a cair-nos em cima, e a fazer de todos nós uma gente atarracada. Fomos, assim, falar com o Changuito, co…
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Os cravos já podem respirar de alívio. Aos que não se safaram, cumpriu pelo menos sacrificarem-se em nome desse folclórico garridismo que corta as ruas uma vez por ano antes que a vida retome o castigo e as injúrias em tons de cinzento. Estamos fadados a celebrar pela eternidade fora um futuro a que ninguém teve a decência de abrir a porta, e assim…
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