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Voto de brasileiros radicados no Estado democrata de Massachusetts também é afetado por polarização
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Massachusetts, no nordeste dos Estados Unidos, segue a tendência histórica do voto em candidatos democratas em eleições presidenciais. Mas, afetada pela polarização da campanha, a imensa comunidade brasileira radicada no local se divide sobre a preferência entre a candidata democrata, Kamala Harris, e o republicano Donald Trump.
Daniella Franco, enviada especial da RFI a Boston
“Eu já decidi em quem vou votar e estou muito convicta disso”, diz a mestre de cerimônias Maria José, que tem a dupla cidadania e vive na região de Boston. Morando nos Estados Unidos há 32 anos, ela participa das eleições presidenciais americanas pela primeira vez.
“Eu vou votar em uma pessoa que está alinhada com os valores da família, com a economia, que é 100% contra matar crianças no ventre da mãe e que é contra a ideologia de gênero”, explica, referindo-se a Trump.
Para ela, o candidato republicano é “um líder forte, que vai tomar decisões sem pensar nas consequências pessoais, um homem que não depende do dinheiro público”. “Votar ‘ao contrário’ [em Kamala Harris] seria dizer sim às drogas, sim à matança de crianças no ventre da mãe, a tudo que é ligado a organizações criminosas”, justifica.
Razões similares levam Pablah Schwartz, proprietária de um café em Framingham, nos arredores de Boston, a optar por Trump pela segunda vez. Definindo-se como cristã, ela afirma que tem valores que classifica de “inegociáveis”.
Vivendo nos Estados Unidos há 25 anos, a questão da imigração também pesou no momento de sua escolha. “Tem muita gente que me fala assim: ‘mas você é uma imigrante e como você pode votar para essa pessoa?”, diz. “Mas antes de ser uma imigrante, eu sou uma cidadã americana."
Pablah não tem dúvidas de que “o povo brasileiro é trabalhador”. No entanto, a comerciante expressa sua preocupação com “a imigração indiscriminada”, “quando as pessoas chegam aqui e só recebem". “Eu creio que a terra pertence a Deus e fronteiras são coisas tristes que nós tivemos que impor para a proteção dos nossos países e dos interesses financeiros de cada nação”, afirma.
Um dos formadores de opinião mais populares entre a comunidade brasileira nos Estados Unidos, Lombardi Jr., apresentador da Nossa Rádio USA, não vota no país. Mas afirma que se pudesse participar do processo eleitoral americano, optaria por Trump, “pela pauta e agenda política dos republicanos”, diz.
“Donald Trump não me agrada como candidato, mas ele representa aquilo que mais se assemelha com o meu pensamento em relação ao que os Estados Unidos precisam para os próximos quatro anos”, reitera, apontando sua oposição ao direito ao aborto e classificando de “catastrófica” a política econômica do governo do presidente Joe Biden.
Brasileiros radicados nos EUA preferem Kamala
Uma pesquisa realizada pelo instituto Ideia para a revista Exame, divulgada em 15 de outubro, apontou que as intenções de voto dos brasileiros radicados nos Estados Unidos é majoritariamente democrata. O balanço indica que 60% das pessoas entrevistadas escolherão Kamala; 35% apoiam Trump. Outros 2% preferem candidatos independentes e 3% não sabem.
No total, mais de 800 brasileiros com cidadania americana e maiores de 18 anos foram ouvidos por telefone. A pesquisa foi realizada entre 6 e 12 de outubro, com eleitores de nove Estados, entre eles, de Massachusetts, e da capital Washington.
“Os brasileiros que podem votar se identificam mais com os democratas, no entanto, têm aumentado a adesão desse eleitorado ao Partido Republicano”, explica Cila Schulman, presidente do Instituto Ideia.
Para ela, a escolha é justificada pelo discurso anti-imigração adotado na campanha eleitoral. “Mesmo que esses brasileiros [ouvidos para a pesquisa] estejam regularizados, a gente tem que lembrar que na administração Trump, ele fez expulsões sumárias. Essa é uma questão pessoal, que ultrapassa a ideologia. Você pode ter um brasileiro conservador ideologicamente, mas que se sente ameaçado”, observa.
Aposta na candidata democrata
O jornalista Fabiano Ferreira vive na região da Grande Boston há dez anos, obteve a cidadania americana em 2023 e votará pela primeira vez no próximo dia 5 de novembro. Sua escolha foi feita após a desistência de Biden, que o levou a pesquisar para conhecer melhor a personalidade e as propostas de Harris.
“Eu fiquei surpreso com tudo o que eu li sobre ela e a achei de uma competência imensa, como acontece com mulheres que ocupam cargos importantes na política, nas empresas, na economia. Simpatizei com a Kamala logo de cara e a acho muito convincente, muito pé no chão, e gosto também de como ela humaniza assuntos tão espinhosos”, explica.
Fabiano acredita que esse é o momento para a eleição de uma presidente mulher nos Estados Unidos. “Está na hora de isso acontecer, como quando a gente teve uma presidente mulher no Brasil. Ainda mais Kamala, uma mulher negra, com o histórico de luta contra a corrupção. Não haveria uma melhor escolha hoje”, reitera.
Esse também é o primeiro voto para presidente da recepcionista Heloisa Araújo. Ela obteve a cidadania americana há um mês e resolveu participar das eleições antecipadamente, como permite o sistema eleitoral dos Estados Unidos.
A moradora de Malborough optou por Harris pela boa relação da vice-presidente com outros líderes internacionais e países e por acreditar que ela tem uma melhor capacidade para diplomacia. Além disso, o perfil do candidato republicano não a agrada. “Decidi pela vice-presidente atual porque não concordo com a política do Trump, a forma que ele lida com os imigrantes e com a conduta grosseira dele”, diz.
Sua participação nas eleições também foi motivada por um sentimento de pertencimento. “Eu faço parte de uma nação, e eu tenho que fazer o meu voto valer. Estou pensando também no futuro desse país, dos imigrantes. Então é muito importante desempenhar esse papel”, avalia.
Já o jornalista Eduardo Amaral de Oliveira, locutor da rádio Insuperável, em Framingham, lamenta não poder fazer o mesmo. Detentor do Green Card, que permite a estrangeiros residir e trabalhar de forma permanente nos Estados Unidos, ele ainda não contribui diretamente com a escolha para a chefia da Casa Branca. No entanto, como formador de opinião, aposta em um resultado apertado: uma vitória de Harris, graças a dois grupos específicos, segundo ele.
“A questão do aborto levantou a vontade da mulher de votar mais [na candidata democrata]. E tem também os jovens, que eu acho que não estão animados como na época do Obama, mas ganharam uma motivação a mais com Kamala. Então se eles comparecerem às urnas mais do que para o Biden, em 2020, acho que ela tem chances”, prevê.
Com a corrida ao mais alto cargo dos Estados Unidos sendo tema frequente dos programas da rádio Insuperável, Eduardo ainda observa outros pontos contraditórios desta campanha eleitoral. “Acho que o povo americano ainda tem dificuldade de ver uma mulher na presidência, o que é um absurdo. Tem o mito que Trump era melhor na economia, e eu também discordo disso, porque ele herdou a economia de Barack Obama, que governou o país durante oito anos”, ressalta. “Eu fico pensando: como é que uma pessoa que foi contra a própria eleição e tentou cancelar milhões de votos tem tanto apoio?”, questiona, referindo-se à recusa de Trump em reconhecer sua derrota em 2020.
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Massachusetts, no nordeste dos Estados Unidos, segue a tendência histórica do voto em candidatos democratas em eleições presidenciais. Mas, afetada pela polarização da campanha, a imensa comunidade brasileira radicada no local se divide sobre a preferência entre a candidata democrata, Kamala Harris, e o republicano Donald Trump.
Daniella Franco, enviada especial da RFI a Boston
“Eu já decidi em quem vou votar e estou muito convicta disso”, diz a mestre de cerimônias Maria José, que tem a dupla cidadania e vive na região de Boston. Morando nos Estados Unidos há 32 anos, ela participa das eleições presidenciais americanas pela primeira vez.
“Eu vou votar em uma pessoa que está alinhada com os valores da família, com a economia, que é 100% contra matar crianças no ventre da mãe e que é contra a ideologia de gênero”, explica, referindo-se a Trump.
Para ela, o candidato republicano é “um líder forte, que vai tomar decisões sem pensar nas consequências pessoais, um homem que não depende do dinheiro público”. “Votar ‘ao contrário’ [em Kamala Harris] seria dizer sim às drogas, sim à matança de crianças no ventre da mãe, a tudo que é ligado a organizações criminosas”, justifica.
Razões similares levam Pablah Schwartz, proprietária de um café em Framingham, nos arredores de Boston, a optar por Trump pela segunda vez. Definindo-se como cristã, ela afirma que tem valores que classifica de “inegociáveis”.
Vivendo nos Estados Unidos há 25 anos, a questão da imigração também pesou no momento de sua escolha. “Tem muita gente que me fala assim: ‘mas você é uma imigrante e como você pode votar para essa pessoa?”, diz. “Mas antes de ser uma imigrante, eu sou uma cidadã americana."
Pablah não tem dúvidas de que “o povo brasileiro é trabalhador”. No entanto, a comerciante expressa sua preocupação com “a imigração indiscriminada”, “quando as pessoas chegam aqui e só recebem". “Eu creio que a terra pertence a Deus e fronteiras são coisas tristes que nós tivemos que impor para a proteção dos nossos países e dos interesses financeiros de cada nação”, afirma.
Um dos formadores de opinião mais populares entre a comunidade brasileira nos Estados Unidos, Lombardi Jr., apresentador da Nossa Rádio USA, não vota no país. Mas afirma que se pudesse participar do processo eleitoral americano, optaria por Trump, “pela pauta e agenda política dos republicanos”, diz.
“Donald Trump não me agrada como candidato, mas ele representa aquilo que mais se assemelha com o meu pensamento em relação ao que os Estados Unidos precisam para os próximos quatro anos”, reitera, apontando sua oposição ao direito ao aborto e classificando de “catastrófica” a política econômica do governo do presidente Joe Biden.
Brasileiros radicados nos EUA preferem Kamala
Uma pesquisa realizada pelo instituto Ideia para a revista Exame, divulgada em 15 de outubro, apontou que as intenções de voto dos brasileiros radicados nos Estados Unidos é majoritariamente democrata. O balanço indica que 60% das pessoas entrevistadas escolherão Kamala; 35% apoiam Trump. Outros 2% preferem candidatos independentes e 3% não sabem.
No total, mais de 800 brasileiros com cidadania americana e maiores de 18 anos foram ouvidos por telefone. A pesquisa foi realizada entre 6 e 12 de outubro, com eleitores de nove Estados, entre eles, de Massachusetts, e da capital Washington.
“Os brasileiros que podem votar se identificam mais com os democratas, no entanto, têm aumentado a adesão desse eleitorado ao Partido Republicano”, explica Cila Schulman, presidente do Instituto Ideia.
Para ela, a escolha é justificada pelo discurso anti-imigração adotado na campanha eleitoral. “Mesmo que esses brasileiros [ouvidos para a pesquisa] estejam regularizados, a gente tem que lembrar que na administração Trump, ele fez expulsões sumárias. Essa é uma questão pessoal, que ultrapassa a ideologia. Você pode ter um brasileiro conservador ideologicamente, mas que se sente ameaçado”, observa.
Aposta na candidata democrata
O jornalista Fabiano Ferreira vive na região da Grande Boston há dez anos, obteve a cidadania americana em 2023 e votará pela primeira vez no próximo dia 5 de novembro. Sua escolha foi feita após a desistência de Biden, que o levou a pesquisar para conhecer melhor a personalidade e as propostas de Harris.
“Eu fiquei surpreso com tudo o que eu li sobre ela e a achei de uma competência imensa, como acontece com mulheres que ocupam cargos importantes na política, nas empresas, na economia. Simpatizei com a Kamala logo de cara e a acho muito convincente, muito pé no chão, e gosto também de como ela humaniza assuntos tão espinhosos”, explica.
Fabiano acredita que esse é o momento para a eleição de uma presidente mulher nos Estados Unidos. “Está na hora de isso acontecer, como quando a gente teve uma presidente mulher no Brasil. Ainda mais Kamala, uma mulher negra, com o histórico de luta contra a corrupção. Não haveria uma melhor escolha hoje”, reitera.
Esse também é o primeiro voto para presidente da recepcionista Heloisa Araújo. Ela obteve a cidadania americana há um mês e resolveu participar das eleições antecipadamente, como permite o sistema eleitoral dos Estados Unidos.
A moradora de Malborough optou por Harris pela boa relação da vice-presidente com outros líderes internacionais e países e por acreditar que ela tem uma melhor capacidade para diplomacia. Além disso, o perfil do candidato republicano não a agrada. “Decidi pela vice-presidente atual porque não concordo com a política do Trump, a forma que ele lida com os imigrantes e com a conduta grosseira dele”, diz.
Sua participação nas eleições também foi motivada por um sentimento de pertencimento. “Eu faço parte de uma nação, e eu tenho que fazer o meu voto valer. Estou pensando também no futuro desse país, dos imigrantes. Então é muito importante desempenhar esse papel”, avalia.
Já o jornalista Eduardo Amaral de Oliveira, locutor da rádio Insuperável, em Framingham, lamenta não poder fazer o mesmo. Detentor do Green Card, que permite a estrangeiros residir e trabalhar de forma permanente nos Estados Unidos, ele ainda não contribui diretamente com a escolha para a chefia da Casa Branca. No entanto, como formador de opinião, aposta em um resultado apertado: uma vitória de Harris, graças a dois grupos específicos, segundo ele.
“A questão do aborto levantou a vontade da mulher de votar mais [na candidata democrata]. E tem também os jovens, que eu acho que não estão animados como na época do Obama, mas ganharam uma motivação a mais com Kamala. Então se eles comparecerem às urnas mais do que para o Biden, em 2020, acho que ela tem chances”, prevê.
Com a corrida ao mais alto cargo dos Estados Unidos sendo tema frequente dos programas da rádio Insuperável, Eduardo ainda observa outros pontos contraditórios desta campanha eleitoral. “Acho que o povo americano ainda tem dificuldade de ver uma mulher na presidência, o que é um absurdo. Tem o mito que Trump era melhor na economia, e eu também discordo disso, porque ele herdou a economia de Barack Obama, que governou o país durante oito anos”, ressalta. “Eu fico pensando: como é que uma pessoa que foi contra a própria eleição e tentou cancelar milhões de votos tem tanto apoio?”, questiona, referindo-se à recusa de Trump em reconhecer sua derrota em 2020.
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