Artwork

Innehåll tillhandahållet av www.terracorpo.pt. Allt poddinnehåll inklusive avsnitt, grafik och podcastbeskrivningar laddas upp och tillhandahålls direkt av www.terracorpo.pt eller deras podcastplattformspartner. Om du tror att någon använder ditt upphovsrättsskyddade verk utan din tillåtelse kan du följa processen som beskrivs här https://sv.player.fm/legal.
Player FM - Podcast-app
Gå offline med appen Player FM !

LATE NIGHT JUNCTION

 
Dela
 

Manage episode 452885338 series 1453662
Innehåll tillhandahållet av www.terracorpo.pt. Allt poddinnehåll inklusive avsnitt, grafik och podcastbeskrivningar laddas upp och tillhandahålls direkt av www.terracorpo.pt eller deras podcastplattformspartner. Om du tror att någon använder ditt upphovsrättsskyddade verk utan din tillåtelse kan du följa processen som beskrivs här https://sv.player.fm/legal.

by Jorge Vicente

00:00:01 Surma | Uppruni

00:02:51 Jorge Vicente | Violet – Parte I (Ema Alba Lobo)

00:04:20 Ala dos Namorados| Rosa Negra

00:07:53 Novos Baianos | Acabou Chorare

00:11:59 Martin and Blane | That's How I Love the Blues

00:15:58 Jorge Vicente | Violet – Parte II (Ema Alba Lobo)

00:16:26 Red Norvo & His Orchestra | Remember

00:19:34 The Chantels | My Memories of You

00:21:43 The Marvelettes | Happy Days

00:23:42 Derek & The Dominos | I Am Yours

00:27:10 The Charts | Why Do You Cry

00:29:30 Johnny Ace | Pledging My Love

00:31:53 The Aquatones | You

00:33:49 Jorge Vicente | Violet – Parte III (Ema Alba Lobo)

00:34:36 The Nutmegs | My Sweet Dream

00:36:43 The Jesters | The Wind

00:39:58 Little Caesar & The Romans | Adorable

00:42:18 The Shirelles | Lonely Teardrops

00:44:54 Jorge Vicente | Violet – Parte IV (Ema Alba Lobo)

00:45:59 The Ronettes | Walking In The Rain

00:49:02 Angel Olsen | Who's Sorry Now

00:51:17 Jorge Vicente | Violet – Parte V (Ema Alba Lobo)

00:52:42 Tarnation | Two Wrongs Won't Make Things Right

VIOLET

esqueço-me de abrir as portas do carro. elas estão presas ao pó que circunda o pátio da casa. vou sair. ligo o ar condicionado e espero que a rádio transmita aquelas palavras que, muitas vezes, repetem ao longo da manhã. bom dia. o trânsito está encerrado na estrada 43 e não é bom dia para passear. melhor seria ficar em casa e comemorar a solidão, olhando as pequenas folhas que teimam em se movimentar em pequenos círculos, como se puxadas por um cordel imaginário. lá fora, vivem as pessoas e o seu estranho círculo de relações. ligo o carro e aperto o cadafalso à pedra. muita distância separa o teu corpo das inúmeras sensações que o prazer provoca, mesmo que este seja uma forma nada subtil de enganar a solidão. aperto-me ainda mais na sensação de ter de me movimentar estrada fora e admirar as mulheres que me pedem para adormecer num diner triste e decadente. é lá que vivem as mulheres que querem partir para a estrada 43 sem, ao menos, se importarem se estão despidas ou se são apenas aquilo que a rádio espera que elas sejam: as futuras estrelas do conglomerado urbano.

páro o carro. meto gasolina e vou embora. não. me apetece levar alguém comigo, mesmo que seja inocente e não se possa deter na estranha forma das pessoas viverem o corpo. nesta cidade, não existe dimensão nenhuma que seja de fácil percepção. tudo se resume ao modo como as pessoas fogem. a estrada é apenas o meio. e não o fim.

chama-se violet e tem nome de flor. e também o nome do chakra de ligação com deus, mas talvez não seja isso porque deus não tem corpo e as flores não têm mais nenhum cheiro do que aquele que movimenta o ecossistema das plantas. apetece-me fodê-la. não a flor, mas a rapariga que tudo abarca e que tem o corpo junto à porta do carro. para onde partes. para a califórnia. procurar ouro. não. não procuro ouro nem viagens xamânicas ao deserto. entra. ela entrou. escusado será dizer que não falámos nada. os meus pensamentos falaram tudo. nunca me dirigi a alguém com estrelas nos olhos, mas a quem não tinha nada a perder, como eu.

levei-a a casa. fez as malas rapidamente, apenas com o essencial. e partimos. nunca prometas nada que não possa ser cumprido, se quiseres podes cortar o mundo às postas e transformar o meu pequeno mundo numa selva de esperma e de calos. não falo nada. apenas penso. mas penso com o lado iluminado do meu rosto. olho a paisagem que se desenrola como um filme. ela adormece. a rádio ilumina as árvores que se estendem no limiar das casas. who's sorry now. angel olsen. uma pauta no silêncio numinoso da paisagem americana. nunca é demasiado discreto pedir o amor quando ele só pode dar a solidão. aproximo a mão da pele e os olhos fecham-se e abrem-se. o olhar é uma flor desgastada que se abre quando pressionada pelo toque da pele. tudo se resume ao fogo do prazer e ao movimento da estrada.

páro o carro e saio para fora. o corpo e mais a pele. já é noite acendida e os carros movimentam-se como faróis no meio do mar e dos peixes. os peixes somos nós. que abrem a boca quando querem ejacular o líquido amniótico que se esquecem de escrever enquanto crianças. tiro as calças e deixo que ela engula o que restou de mim enquanto estive na casa. e o que sair será para ela uma forma encantatória de enganar a solidão. porque provavelmente o amor será apenas isso, quando engolimos e deixamos sair. e vomitamos. e voltamos ao estado do leite virginal. e deixamos que o corpo se relembre disso. até cairmos e termos a sensação de que acabámos com a inocência de quem queria apenas partir e não jogar o seu futuro nas estradas e nos corpos alheios. o corpo é só nosso quando perdoamos as nossas faltas. e se a solidão e o amor são o lamaçal da pele, nunca deixamos de ser cadáveres. e fodemos pelos nossos mortos como fodemos pelo nosso sabor metálico. mas lá estou eu a pensar. provavelmente, é mesmo amor, mas com uma diferente intensidade. a partilha da pele e do esperma. só a nossa inocência é que sabe.

Jorge Vicente

Fotografia de Robby Müller, "Santa Fe, Mexico", 1985.

MP3
www.terracorpo.pt

  continue reading

26 episoder

Artwork
iconDela
 
Manage episode 452885338 series 1453662
Innehåll tillhandahållet av www.terracorpo.pt. Allt poddinnehåll inklusive avsnitt, grafik och podcastbeskrivningar laddas upp och tillhandahålls direkt av www.terracorpo.pt eller deras podcastplattformspartner. Om du tror att någon använder ditt upphovsrättsskyddade verk utan din tillåtelse kan du följa processen som beskrivs här https://sv.player.fm/legal.

by Jorge Vicente

00:00:01 Surma | Uppruni

00:02:51 Jorge Vicente | Violet – Parte I (Ema Alba Lobo)

00:04:20 Ala dos Namorados| Rosa Negra

00:07:53 Novos Baianos | Acabou Chorare

00:11:59 Martin and Blane | That's How I Love the Blues

00:15:58 Jorge Vicente | Violet – Parte II (Ema Alba Lobo)

00:16:26 Red Norvo & His Orchestra | Remember

00:19:34 The Chantels | My Memories of You

00:21:43 The Marvelettes | Happy Days

00:23:42 Derek & The Dominos | I Am Yours

00:27:10 The Charts | Why Do You Cry

00:29:30 Johnny Ace | Pledging My Love

00:31:53 The Aquatones | You

00:33:49 Jorge Vicente | Violet – Parte III (Ema Alba Lobo)

00:34:36 The Nutmegs | My Sweet Dream

00:36:43 The Jesters | The Wind

00:39:58 Little Caesar & The Romans | Adorable

00:42:18 The Shirelles | Lonely Teardrops

00:44:54 Jorge Vicente | Violet – Parte IV (Ema Alba Lobo)

00:45:59 The Ronettes | Walking In The Rain

00:49:02 Angel Olsen | Who's Sorry Now

00:51:17 Jorge Vicente | Violet – Parte V (Ema Alba Lobo)

00:52:42 Tarnation | Two Wrongs Won't Make Things Right

VIOLET

esqueço-me de abrir as portas do carro. elas estão presas ao pó que circunda o pátio da casa. vou sair. ligo o ar condicionado e espero que a rádio transmita aquelas palavras que, muitas vezes, repetem ao longo da manhã. bom dia. o trânsito está encerrado na estrada 43 e não é bom dia para passear. melhor seria ficar em casa e comemorar a solidão, olhando as pequenas folhas que teimam em se movimentar em pequenos círculos, como se puxadas por um cordel imaginário. lá fora, vivem as pessoas e o seu estranho círculo de relações. ligo o carro e aperto o cadafalso à pedra. muita distância separa o teu corpo das inúmeras sensações que o prazer provoca, mesmo que este seja uma forma nada subtil de enganar a solidão. aperto-me ainda mais na sensação de ter de me movimentar estrada fora e admirar as mulheres que me pedem para adormecer num diner triste e decadente. é lá que vivem as mulheres que querem partir para a estrada 43 sem, ao menos, se importarem se estão despidas ou se são apenas aquilo que a rádio espera que elas sejam: as futuras estrelas do conglomerado urbano.

páro o carro. meto gasolina e vou embora. não. me apetece levar alguém comigo, mesmo que seja inocente e não se possa deter na estranha forma das pessoas viverem o corpo. nesta cidade, não existe dimensão nenhuma que seja de fácil percepção. tudo se resume ao modo como as pessoas fogem. a estrada é apenas o meio. e não o fim.

chama-se violet e tem nome de flor. e também o nome do chakra de ligação com deus, mas talvez não seja isso porque deus não tem corpo e as flores não têm mais nenhum cheiro do que aquele que movimenta o ecossistema das plantas. apetece-me fodê-la. não a flor, mas a rapariga que tudo abarca e que tem o corpo junto à porta do carro. para onde partes. para a califórnia. procurar ouro. não. não procuro ouro nem viagens xamânicas ao deserto. entra. ela entrou. escusado será dizer que não falámos nada. os meus pensamentos falaram tudo. nunca me dirigi a alguém com estrelas nos olhos, mas a quem não tinha nada a perder, como eu.

levei-a a casa. fez as malas rapidamente, apenas com o essencial. e partimos. nunca prometas nada que não possa ser cumprido, se quiseres podes cortar o mundo às postas e transformar o meu pequeno mundo numa selva de esperma e de calos. não falo nada. apenas penso. mas penso com o lado iluminado do meu rosto. olho a paisagem que se desenrola como um filme. ela adormece. a rádio ilumina as árvores que se estendem no limiar das casas. who's sorry now. angel olsen. uma pauta no silêncio numinoso da paisagem americana. nunca é demasiado discreto pedir o amor quando ele só pode dar a solidão. aproximo a mão da pele e os olhos fecham-se e abrem-se. o olhar é uma flor desgastada que se abre quando pressionada pelo toque da pele. tudo se resume ao fogo do prazer e ao movimento da estrada.

páro o carro e saio para fora. o corpo e mais a pele. já é noite acendida e os carros movimentam-se como faróis no meio do mar e dos peixes. os peixes somos nós. que abrem a boca quando querem ejacular o líquido amniótico que se esquecem de escrever enquanto crianças. tiro as calças e deixo que ela engula o que restou de mim enquanto estive na casa. e o que sair será para ela uma forma encantatória de enganar a solidão. porque provavelmente o amor será apenas isso, quando engolimos e deixamos sair. e vomitamos. e voltamos ao estado do leite virginal. e deixamos que o corpo se relembre disso. até cairmos e termos a sensação de que acabámos com a inocência de quem queria apenas partir e não jogar o seu futuro nas estradas e nos corpos alheios. o corpo é só nosso quando perdoamos as nossas faltas. e se a solidão e o amor são o lamaçal da pele, nunca deixamos de ser cadáveres. e fodemos pelos nossos mortos como fodemos pelo nosso sabor metálico. mas lá estou eu a pensar. provavelmente, é mesmo amor, mas com uma diferente intensidade. a partilha da pele e do esperma. só a nossa inocência é que sabe.

Jorge Vicente

Fotografia de Robby Müller, "Santa Fe, Mexico", 1985.

MP3
www.terracorpo.pt

  continue reading

26 episoder

Alla avsnitt

×
 
Loading …

Välkommen till Player FM

Player FM scannar webben för högkvalitativa podcasts för dig att njuta av nu direkt. Den är den bästa podcast-appen och den fungerar med Android, Iphone och webben. Bli medlem för att synka prenumerationer mellan enheter.

 

Snabbguide